segunda-feira, 16 de abril de 2012

A estupidez da nobreza

Comentário - 16 de abril de 2012 às 18:40

Por Sílvia Lakatos (em colaboração para a ANDA)


Vez por outra, nos deparamos com alguma imagem chocante, de agressão à vida animal, protagonizada por expoentes das principais casas reais europeias. A mais recente mostra o rei Juan Carlos, da Espanha, posando todo sorridente ao lado de um elefante abatido. Com seu ar triunfante, ele distribui algumas bofetadas: ao povo espanhol, que está atravessando um momento difícil, de enorme recessão, enquanto seu monarca se diverte em outro continente, como se fosse a coisa mais normal do mundo “dar um perdido” enquanto o país vai à bancarrota; à WWF, entidade conservacionista da qual é presidente honorário; e, claro, a todas as pessoas decentes e sensíveis, que sequer imaginavam que tal “esporte” fizesse parte da agenda de um homem aparentemente sério e ponderado.
Mas Juan Carlos não é o único nobre que se diverte tirando vidas. Há cerca de uma década, causou indignação uma foto do Príncipe William (hoje Duque de Cambridge), e de sua então namorada Kate Middleton: ambos sorriam, ao lado de um filhote de cervo que haviam acabado de abater.
E William teve a quem puxar. O Príncipe Philip, marido de Elizabeth II e avô dos princípes William e Harry, é notório caçador. Não há tripulante da Arca de Noé que o distinto senhor já não tenha alvejado, picado e sangrado. Ele se orgulha disso e fez questão de transmitir sua “arte” aos netinhos…
E o que dizer da própria Elizabeth II? Em 2000, as câmeras de um tabloide inglês registraram o momento em que um dos cães da rainha aproximou-se dela, levando entre os dentes um faisão ferido por bala. Elizabeth então se abaixou, apanhou a ave e torceu-lhe o pescoço com as próprias mãos. A repercussão foi péssima! Na sequência da reportagem, a popularidade da família real despencou e permaneceu em baixa por um bom tempo, obrigando o Palácio de Buckingham a emitir um comunicado no qual explicava que o ato tivera uma finalidade humanitária: abreviar o sofrimento do bicho agonizante.
Acredite quem quiser, não é mesmo?
O fato, porém, é que a caça faz parte da cultura dessa gente desde os tempos em que só os nobres dispunham do direito de caçar em suas vastas propriedades. Mas não é razoável que barbaridades sejam legitimadas porque são “parte da cultura” – seja extirpar clitóris de meninas, assassinar bebês deficientes ou caçar, os “costumes” que não passam de autênticos horrores devem ser abandonados. Simples assim.
Mas, congelados no tempo, talvez enfastiados por não fazerem nada além de “reinar” – e no caso de um Príncipe Philip, nem isso, uma vez que o trono pertence à sua esposa –, esses indivíduos se divertem em matar. Talvez este seja o momento em que chegam mais perto da vida “verdadeira”: quando o sangue jorra, o brilho da vida se esvai dos olhos da presa, e o inútil “nobre” se sente um pouco deus… Um deus da destruição, claro, mas ainda assim poderoso e onipotente perante sua vítima.
A nós, pobres mortais, restam poucas opções: espernear, protestar e, é claro, fazer parte de todas as correntes internacionais que surgirem com o propósito de repudiar tais comportamentos. Não é fácil mudar o status quo, mas é melhor unir a nossa voz à “gritaria geral” do que simplesmente nos conformar. Isso, nunca! Os animais não podem se defender, e por isso dependem das pessoas que aceitam assumir a difícil tarefa de falar por eles.

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