quarta-feira, 25 de abril de 2012

Idealizadora de grupo que luta contra exploração animal explica as bases do veganismo

Alimentação sem crueldade - 25 de abril de 2012 às 16:40


Em Ponta Grossa, foi criado neste ano um grupo que luta contra a exploração dos animais, o Abolicionistas Veganos. Em entrevista ao Portal Comunitário, a idealizadora do grupo, Andresa Jacobs, explica as bases do veganismo.
Andresa Jacobs é formada em Biologia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e Mestre em Educação, Ciência e Problemática Ambiental pela Universidade Federal de Santa Cantarina (UFSC). Atualmente ministra aulas de Ciências para o Ensino Fundamental no Colégio Estadual Prof. Eugênio Malanski, onde também coordena o Projeto Valor à Vida. Atua ainda como colunista da Agência de Notícias de Direitos Animais (www.anda.jor.br) e pertence ao grupo Abolicionista Veganos (abolicionistasveganos.blogspot.com.br).
Andresa afirma ter sido viciada em carne. Mas, depois de tomar conhecimento do sofrimento a que os animais eram submetidos – seja para produção de alimentos, cobaias ou outros -, decidiu parar de consumir produtos de origem animal. Adotou outro modo de vida, o veganismo. Os Veganos primam pelo não sofrimento dos animais, boicotando itens de origem ou testados em animais. Essa mudança na vida de Andresa foi em 2004 e, segundo ela, a iniciativa só trouxe benefícios, tanto para ela quanto para o planeta.

Qual a diferença entre o veganismo e o vegetarianismo?

A pessoa vegetariana é aquela que não se alimenta de nada de origem animal. É uma falácia achar que quem não come carne mas se alimenta de ovos, leite e seus derivados é vegetariano. Essa forma de alimentação, que exclui produtos de origem animal, é meio caminho para o veganismo, que é um modo de vida. O vegano, além de não comer absolutamente nada de origem animal, opta por produtos de origem vegetal também na questão de vestuário e utensílios. Outro cuidado que essa pessoa tem é analisar os rótulos e embalagens e sempre escolher as empresas que garantem não utilizar animais em experimentos ou partes deles para a confecção dos produtos. Basicamente, o vegano é um vegetariano que além de excluir alimentos de origem animal, opta por um modo de vida que de nenhuma forma precise que animais sejam sacrificados ou explorados para que ele viva.

Qual foi a sua motivação? Desde quando é vegana?

No meu caso foi por causa do Grupo Fauna de Proteção aos Animais. A princípio não virei vegetariana por causa da saúde, foi pelos animais. Sei o holocausto a que eles são submetidos, e resolvi deixar de compactuar com isso. A melhora na saúde foi uma consequência. Desde 2004, quando adotei esse modo de vida, tenho mais disposição, sinto-me melhor. Eu era viciada em carne, mas quando ingressei no Grupo Fauna, iniciei um processo gradativo de diminuição na quantia de carne até o total abandono desse alimento e derivados. Comer carne é um vício. Ela é um alimento muito pesado que quando comido demora a ser digerido dando sensação de saciedade, o que não quer dizer que ela seja nutritiva.

É grande o número de vegetarianos no Brasil?

O Brasil é o país onde mais tem crescido o número de vegetarianos, segundo entidades vegetarianas. Esse fato resulta em uma maior oferta de itens. Em Ponta Grossa, por exemplo, existem muitas casas de produtos naturais e com grande diversidade. É possível encontrar desde aveia até grãos que não são produzidos em nossa região.

Como as pessoas que não comem carne nem derivados de leite podem suprir a necessidade de proteínas e vitaminas?
Todo vegetal é composto por proteína. Para alimentação, as leguminosas como feijão, soja, grão de bico e lentilha, além de outros, são ricas em proteínas. Mas as pessoas são culturalmente educadas a comer carne e achar que essa é a única fonte de proteína possível. Quanto às vitaminas, a única que é preciso ter um pouco mais de atenção é a B12 ou cobalamina. Caso seja necessária a reposição de B12, suplementos vitamínicos conseguem suprir esta necessidade.
Quem é vegetariano cuida da saúde, porque está ciente da importância de uma alimentação adequada. Por isso prefere produtos integrais aos polidos, além do que uma dieta em que há a busca por outras formas de proteínas resulta em diversidade alimentar, e traz como consequência diversidade de aminoácidos. Benefícios que, quem se prende à alimentação exclusivamente dependente de proteína animal, não tem.
Hoje em dia, há maior facilidade em encontrar produtos naturais e de origem vegetal?

Com certeza. De alguns anos pra cá, o número de lojas especializadas nesses produtos aumentou bastante, barateando o custo desses alimentos e trazendo maior variedade. Além disso, a internet é uma grande ferramenta tanto para a compra quanto como fonte de informação.

E quanto ao custo, é caro manter esse modo de vida?

Pelo contrário. Ir à feira e comprar uma grande variedade de frutas e verduras sai mais barato que comprar a quantia equivalente em carne. É preciso acabar com o mito que o vegetariano é uma elite, afinal o valor agregado aos vegetais, partindo-se do custo de produção e manutenção, é muito menor do que o valor agregado à carne, justamente por ser um produto de origem animal.

Como as outras pessoas encaram esse modo de vida?

Apesar do crescimento no número de pessoas que optam por não comer carne e derivados animais, a sociedade critica bastante os vegetarianos, por isso somos os primeiros a dar o exemplo de rigor com a saúde alimentar. Por exemplo, quando se fica resfriado, pronto! É porque não come carne. Qualquer coisa é motivo para criticas. Mas é muito mais fácil julgar o outro ao invés de olhar para si mesmo, não?

Como é ser vegana?

Bom, nós somos bastante disciplinados quanto à alimentação sem violência e buscamos estar sempre atualizados. Procuramos cozinhar, saber a origem do que estamos comendo, além de buscar opções ‘vegetarianas’ para comidas que são feitas com carne. Por exemplo, existem receitas de salgadinhos como coxinhas, quibes e pasteis que não levam ovo, leite nem carne. Engana-se quem pensa que vegetariano sofre, muito pelo contrário, não sofremos e ainda experimentamos sabores diferentes e mais saudáveis.
Em relação aos demais modos de consumo, fazemos o mesmo. Hoje existem opções boas e baratas de produtos veganos nos mercados e internet. Que vão desde roupas e calçados até cosméticos e produtos de limpeza.

E pessoas que almoçam fora e não tem tempo de cozinhar ou não sabem, mas querem se tornar adeptas. O que podem escolher em um buffet, por exemplo, para suprir as necessidades de proteínas e vitaminas?
No prato não podem faltar uma quantia de leguminosa como feijão, ervilha, ou grão de bico ou lentilha, devem optar por arroz e/ou massas integrais, que são mais nutritivos e dão sensação de saciedade, e completar com um bom prato de salada, não só alface e tomate. Devem estar no prato também os vegetais verdes, como brócolis, vagem, couve, dependendo do que é oferecido pelo restaurante. O importante é a diversidade.

Quais os benefícios de ser vegetariana?

Além de poupar vidas de animais, em princípio, as pessoas têm mais disposição, há a diminuição no risco de doenças relacionadas ao sistema gastrointestinal, os níveis de colesterol, que resultam em problemas cardíacos, dentre outros, são menores, além disso, segundo estudos, o câncer no aparelho reprodutor está ligado ao consumo de carne, e quando se mudam os hábitos o risco é diminuído. Há também benefícios que estão mascarados, por exemplo, a carne, os ovos e até mesmo o leite são repletos de substâncias que foram dadas aos animais para otimizar a produção. No caso dos frangos, há o estimulo através de hormônios para o rápido crescimento e desenvolvimento das aves, a carne consumida é proveniente de frangos ainda ‘bebês’. No caso da carne bovina e suína, há a presença de antibióticos e outras substâncias maléficas à saúde, além dos hormônios, e o pior é que não há parâmetros e meios para a fiscalização.

Qual o impacto ambiental de comer carne?

Segundo dados da ONU, para cada container de frango que vai para o exterior, ficam sete de fezes, sangue, pele, bico e outras partes que o mercado não quer. Tudo isso vai parar onde? Basta ver a situação do Rio Verde, que passa pelo Matadouro Municipal. Para a produção de um quilo de carne são gastos, desde o inicio da vida do animal até a limpeza da carcaça, mais de 15 mil litros de água. O custo ambiental da carne é muito alto para o Brasil, se fossem contabilizados todos os prejuízos ambientais e custos de produção, a carne seria um alimento impagável. O preço nunca cobrirá o custo ético, ambiental e sanitário.
Outro dado importante é que no Brasil temos mais bois do que gente, cerca de 200 milhões, sendo o rebanho maior do mundo. E esses animais, além de ocuparem o que resta de florestas, como a Amazônia, que estão sendo convertidas em pastagens, são os grandes responsáveis pelo efeito estufa. Enquanto a queima de combustíveis fósseis é responsável por 13% da emissão dos gases que intensificam o efeito estufa, mais de 18% decorrem da criação de animais para carne, isso sem contar o leite e derivados. Um dado que não interessa ao poderio pecuarista divulgar.

Fonte: Pipocandoporai

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