sábado, 14 de abril de 2012

Olhares indiferentes

Animais & Companhia - Jornal Folha de Mayrink 


O abandono de animais, principalmente filhotes, é uma prática deplorável, que infelizmente é recorrente em todos os lugares.
Durante minhas caminhadas noturnas tenho me deparado com a triste realidade de encontrar animais mortos ou vagando famintos pelas ruas.
Do centro à periferia tais cenas deprimentes se repetem e cães acometidos de doenças as mais diversas, principalmente sarna, desfilam seu abandono e suas mazelas ante os olhares indiferentes da população.
Tal atitude humana, criminosa e irresponsável quanto ao abandono e omissiva quanto ao sofrimento, mostra o grau de involução de nossa espécie. Em vez de evoluirmos, adotarmos novos parâmetros quanto à maneira que interagimos com os demais seres, seguimos embotados pelo nosso egoísmo inconseqüente.
Num município com mais de cinqüenta mil habitantes é deprimente que o abrigo da Associação Protetora de Animais de Mairinque continue abarrotado de cães e uns poucos gatos que seguem sua sina de prisioneiros eternos.
Cuidados protegidos e alimentados por meia dúzia de abnegados, centenas de animais seguem despojados do que lhes é primordial, o carinho de um tutor.
Com um pouco de boa vontade muitos desses animais podem ser adotados e experimentar a alegria de conviver num lar que lhes proporcione vida digna, amor e liberdade.
O sofrimento alheio há muito não nos comove, a compaixão é um conceito em desuso, soando até piegas para alguns. O pragmatismo existencial é a marca registrada da maioria e o que prevalece é o cada um por si.
Infelizmente, a frieza ante as mazelas dos demais seres humanos e animais, não é privilégios de descrentes. Boa parte da massa de fiéis que acode diariamente às missas e cultos, tão logo deixa templos e igrejas, fecha-se em seu individualismo exacerbado, em sua fé cega, que não enxerga o pedinte esfaimado ou o cão sarnento que apodrece nas ruas, sem água, sem comida e sem esperança de cura.
Que crença é essa que não os impele para a caridade e a compaixão? Em que canto obscuro de suas mentes e almas jazem a piedade, a solidariedade e a doação?
Cedo ou tarde cada um de nós poderá encarar angustias e dramas. Então deveríamos ter em mente que precisamos uns dos outros. E se não somos auto-suficientes para encarar nossos dilemas existenciais nada mais justo que estendamos as mãos para o próximo, sejam de que espécie for.
É intuitivo que existem exceções. Há aqueles que professando ou não algum credo exercitam a caridade de diversas formas. Mas o contingente dos que socorrem, compreendem e acolhem os desafortunados é exíguo diante do contingente de desassistidos.
Num mundo globalizado e capitalista, onde o individualismo e o acúmulo são marcas registradas, ai daqueles que não tem como prover suas necessidades.
Enquanto não alcançarmos de alguma forma a iluminação, seguiremos em nossa existência robótica, indiferentes à sorte de animais e seres humanos que continuaram vagando ao sabor da própria sorte.

Servilio Vieira Branco
OAB/SP 119.218
E-mail: brancolex@hotmail.com
E-mail: cddamk@hotmail.com

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